Um Kleingarten pra chamar de meu

Quando eu morei na Alemanha tive a oportunidade de conhecer de perto os Schrebergärten ou Kleingärten. O nome desses jardins é a junção de dois substantivos – Klein = pequeno e Garten = Jardim – e os pequenos jardins são pequenas porções de terra alugada pelas prefeituras de algumas cidades alemãs. Como estou no projeto de fazer um homeoffice de uma casinha abandonada nos fundos da minha casa, resolvi também investir em um jardim pra chamar de meu. A missão agora é tentar fazer o meu próprio Kleingarten.

Quando eu estava estudando na Alemanha, lembro de ter lido esse artigo na Deutsch Welle sobre os jardins pequenos que eram a cara dos alemães. Na verdade, eles são um fenômeno. Diz o artigo, escrito em inglês, que se o movimento de hortas urbanas – especialmente nos Estados Unidos da América – são o mais novo passatempo dos hipster – os Schrebergärten já fazem parte da história da Alemanha e são verdadeiras instituições daquele país.

O que é um Kleingarten?

Um Kleingarten é um pequeno lote de terra com uma pequena casa, na qual não se pode morar. A casinha, pode ser igual ao que a gente consideraria aqui no Brasil uma casa de favela ou uma casinha de gnomo extremamente elaborada, usualmente rodeado por um jardim ou uma horta nos quais os alemães passam os seus dias de folga trabalhando na terra e também os dias quentes do verão fazendo churrasco e tomando cerveja.

Um Kleingarten em Osnabrück na Alemanha ficava no caminho para o supermercado

Os jardins eram conhecidos como jardim dos pobres quando começaram a ser implementados a partir de 1864. Surgiram nas grandes cidades graças as ideias de um médico chamado Moritz Schreber, e por isso os jardins também são conhecidos como Schrebergarten, em homenagem ao médico.

Durante as duas guerras mundiais nas quais a Alemanha esteve envolvida, e no período entre as guerras, que representou um empobrecimento da população alemã, os Kleingärten foram foram fundamentais para a sobrevivência de muitas famílias, garantindo o que hoje chamamos de segurança alimentar.

Após a Segunda Guerra, os jardins, normalmente localizados em terrenos indesejados perto de linhas de trem e longe dos centros das cidades, deixaram de ser uma necessidade e passaram a ser um luxo. Quando alguém dizia que uma pessoa tinha uma mentalidade Schrebergarten na Alemanha, isso queria dizer que a pessoa era antiquada, quadrada e burguesa como explica essa reportagem da BBC.

O grande problema dos Kleingärten durante algum tempo, me explicam as minhas fontes alemãs, é que alguns desses loteamentos de jardim se tornaram tão cheios de regras que ficava difícil relaxar e se divertir plantando na terra com as próprias mãos.

Todavia, a reportagem da BBC mostra que as coisas estão mudando. Os jardins, artigos de luxo para uma geração que cresceu durante o boom econômico da Alemanha, passaram a ser cobiçados por uma geração de jovens profissionais interessados em produzir seus próprios alimentos e transformar a relação com o consumo.

A preocupação dessas jovens famílias é na transformação do consumo e a proteção ambiental, além na criação de um espaço pra relaxar dentro das cidades. A procura de jovens e de jovens famílias pelos pequenos jardins levou a uma enorme fila de espera que, que de acordo com a reportagem de 2019, possui 12.000 pessoas aguardando uma vaga.

Questões locais.

Durante anos venho acompanhado a luta de pessoas especiais como Nevinha Valentim e a minha própria mãe, Graça Leal, na tentativa de criar uma horta urbana dentro do bairro de Ponta Negra em Natal-RN.

A ideia a ideia de criar uma horta em um dos terremos do bairro vem movimentando pessoas da comunidade há anos, mas ainda não vingou, infelizmente. Mas ela nunca foi tão atual! Especialmente quando Governo Federal atual está tão empenhado em empobrecer a população e em envenenar os alimentos nas lavouras aprovando o uso de cada vez maior agrotóxicos – a segurança alimentar relacionada à consciência ecológica são temas extremamente relevantes.

Na ausência de uma horta comunitária, me restaram poucas opções, e por isso decidi criar uma pequena horta na minha própria casa, um Kleingarten pra chamar de meu. Essa é a minha forma de ação política, ecológica, anti-consumista, e uma forma de me conscientizar sobre a minha própria alimentação.

Fazer uma horta é fácil!

Você já deve ter ouvido que é fácil começar um jardim, ou uma horta. Mas na minha experiência, o processo é um pouco mais complexo. Um jardim e especialmente uma horta, necessita de tempo e a linha de aprendizagem envolve tentativa e erro, e milhares de horas assistindo vídeos no youtube. (No momento eu estou viciada no canal da Robbie e do Gary).

A primeira coisa que plantei foram tomates e vou falar uma coisa, desde Setembro do ano passado estou tentando fazer com que as 20 ou 30 mudas de tomate, deem tomates. Até o momento nenhum fruto suculento chegou até os meus lábios e até agora nada. Claro que a invasão dos coelhos e a destruição de vários pés por eles não ajudou muito…

Por hora, além dos tomates estão plantados dois pés de abobrinhas e dois de abóbora, além alface, cebolinha e coentro. Estou comprando material e tomando algumas decisões em relação a dois canteiros suspensos que quero criar. Eles ainda não saíram do papel, porque preciso de muita terra pra criar os canteiros.

Dessa necessidade, surgiu o projeto da composteira que estou fazendo utilizando os restos da cozinha, as folhas da mangueira e o esterco dos coelhos. Porém, assim como os outros planos do meu Kleingarten, a composteira demanda tempo. Ela só terá composto pronto em três meses. Essa é a primeira lição do meu Kleingarten: para que as coisas venham a ser, elas dependem de cuidado, e também de tempo.

Com alguma sorte em breve terei alguns frutos do meu trabalho e nas palavras de outro jardineiro do youtube, mesmo que eu não alimente toda a minha família à partir dessa horta, produzir um ou dois pequenos itens pra nossa refeição já me encherão de orgulho – isso se os coelhos deixarem!

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